Como escapar do efeito manada?
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Implementar novas tecnologias é sempre um grande desafio: Frequentemente há uma tendência de se pensar que novas abordagens podem não dar certo e que “em time que está ganhando, não se mexe”. Entretanto, não é possível prosseguir por muito tempo com esse tipo de pensamento – especialmente em uma sociedade que muda na velocidade da luz com novas descobertas tecnológicas diariamente.
Nos últimos meses, a Soluparts trouxe várias tendências que devem dominar o mercado em breve, prometendo quebrar paradigmas, otimizar e agilizar processos deixando as empresas mais competitivas. Algumas já parecem mais próximas da realidade, como big data – capaz de ajudar a gerenciar compras complexas – enquanto outras, como blockchain e supply chain 4.0 ainda parecem um privilégio de poucas empresas diante do cenário atual.
Antes de implementar qualquer uma delas, existe uma etapa essencial: analisar o retorno e a viabilidade de cada nova tecnologia ou processo que surge no mercado diante da capacidade e do tempo de resposta do setor ou da empresa em que você atua.
Nesse artigo, vamos discutir algumas dicas para você seguir na hora de adotar alguma dessas novas tendências, para que o processo seja benéfico para sua empresa e não o contrário: o que chamamos, aqui, de “efeito manada”.
O que é o efeito manada?
Em seu livro The General Theory of Employment, Interest and Money (1936), o economista John Maynard Keynes traz uma analogia ao efeito manada no mercado financeiro, relacionada a um “concurso de beleza”: imagine um concurso hipotético com 100 candidatos, no qual quem escolhesse os seis mais bonitos ganharia um prêmio – ou seja, o vencedor é aquele capaz de adivinhar qual será a opinião geral acerca dos candidatos mais atraentes.
No mercado financeiro, as coisas funcionam de forma bastante similar: gestores de sucesso frequentemente têm de entender para onde vai a maior parte dos investimentos de acordo com uma opinião e visão “gerais”, em vez de considerar única e exclusivamente seu gosto pessoal.
Com o desenvolvimento da sociedade, esse efeito de “entender para onde a maioria vai” pode ser aplicado a diferentes segmentos e situações. A fim de entendê-lo um pouco melhor, um estudo do MIT de 1992 tentou trazer um modelo capaz de capturar o efeito manada e entender como as pessoas agem.
De acordo com o autor do estudo, as pessoas tendem a usar a informação de outros para tomar as próprias decisões – em vez de usar as próprias informações de que dispõem. Em um extremo, isso pode causar efeitos graves, dado que as pessoas abdicariam quase completamente da própria opinião para seguir somente a de outros.
Dessa forma, fica clara a associação entre usar informações de mercado e ir atrás das próprias necessidades, adaptando-as ao contexto de cada empresa. Do contrário, as chances de fracasso são imensas.
No século XXI, a era da informação tem conquistado diferentes companhias – e a aparente necessidade de investir nelas em todos os setores, sem uma estratégia clara ou benefícios muito bem direcionados – pode trazer consequências desanimadoras.
Em um estudo conduzido em 2019 pela McKinsey, concluiu-se que a transformação digital dá errado em 70% das empresas. Para Harry Robinson, sócio sênior da consultoria, alinhar o comportamento das pessoas em relação às novas tecnologias e processos é um dos principais empecilhos para o sucesso.
Na cadeia de suprimentos
Entender o impacto de supercomputadores, realidade aumentada e outros pontos não é tarefa fácil. Especialmente na pandemia, época que trouxe tanta crise para diferentes setores, saber onde investir é uma tarefa de mestre.
Para Michael J. Jacobides e Martin Reeves, no contexto atual, empresas que buscam sair mais fortes diante do cenário econômico atribulado devem desenvolver uma compreensão sistemática da mudança de hábitos. Ou seja, mais uma vez, a dimensão de pessoas tomando um papel essencial.
Trazendo isso para o impacto do setor, nem toda a tecnologia do mundo será capaz de funcionar dentro de organizações que não têm pessoas treinadas e alinhadas para usá-las da melhor forma possível – não adianta, por exemplo, investir em óculos VR se os colaboradores que participam da experiência ficam atordoados: realidade aumentada tem de ser muito bem pensada para trazer benefícios ao mapear o armazenamento dos estoques e depósitos; da mesma forma, chatbots podem não ser a melhor alternativa para se comunicar com clientes, por exemplo.
“A menos que nos sensibilizemos diante do cenário atual para novos hábitos e seus efeitos indiretos em cascata, não conseguiremos identificar fraquezas e podemos perder oportunidades de sair na frente e moldar o mercado”, pontuam os autores.
Diante desse princípio, será necessário ressignificar o valor da cadeia de suprimentos constantemente, contando, é claro, com uma comunicação clara e eficaz com todos os agentes envolvidos neste processo. Pensar formas de compartilhar recursos, por exemplo, pode ser um ponto de virada na sociedade pós-covid-19. Além disso, atenção às startups e aos nichos serão fundamentais.
Como escapar dessa armadilha?
É possível resumir o que já dissemos neste artigo em três pontos principais:
Calcule o retorno no investimento
Mensure onde os investimentos serão realizados, pesquise sobre as ferramentas necessárias para implementá-las e alinhe dentro da empresa como isso será feito.
Estude e analise a aplicabilidade dessa tendência no mercado, nas cadeias de suprimentos e em sua indústria e, se possível, faça benchmarking com quem já teve sucesso ao aderir a essa nova tecnologia.
Analise a cultura organizacional de sua empresa
Analise se sua empresa tem a mentalidade e cultura organizacional para a adoção daquela tendência em específico. Há tendências como o uso de realidade virtual e realidade aumentada, que funcionaram muito bem para montadoras como a FIAT, por exemplo. Ainda assim, o processo é muito novo e existem poucos profissionais disponíveis para lidar com ela.
A robótica é outra tecnologia que, apesar de estar sendo bastante adotada em diversas indústrias, precisa de mão de obra tecnicamente qualificada para a nova operação. Saiba mais sobre o assunto.
Diante desse cenário, é fundamental se perguntar: isso é realmente necessário para a minha empresa? As pessoas terão a tolerância necessária para aprender a partir dela? Entre outros pontos.
Evite os modismos
Procure entender se essa tendência vai realmente vingar ou será passageira. Analisando o lado técnico da questão, aderir rápido – e sair rápido – pode ser uma boa estratégia para os early adopters.
Colocar o negócio “nos trilhos” o mais rápido possível após uma tentativa fracassada é a melhor forma de evitar o desperdício de talento e de capital dentro da organização.
Para te ajudar na pesquisa sobre as novas tendências do mercado e principalmente da cadeia de suprimentos, acompanhe o blog da Soluparts. Além das últimas novidades, trazemos também dicas de negociação e desenvolvimento de carreira, tudo para você estar sempre na frente!