O desenvolvimento econômico visto nos últimos anos trouxe uma série de benefícios para as empresas, como a implantação de novas tecnologias, que promoveu ganhos em produtividade. Entretanto, a produção em larga escala também provocou um “efeito colateral” incômodo: a geração crescente de resíduos, que são descartados após a sua vida útil.
Ao comprar um novo eletrodoméstico, por exemplo, o que você faz com o antigo equipamento? Possui a preocupação com a sua reutilização ou apenas faz o seu descarte? Além disso, você imagina o que acontece com o este resíduo gerado?
Muitos especialistas argumentam que este modelo de compra e geração de resíduos não funcionará a longo prazo. Isto é, será necessário criar ideias cujo foco seja repensar e redesenhar os produtos e seus componentes.
Entre as muitas possibilidades, o conceito de Economia Circular (EC) ganha relevância em estudos acadêmicos e nas práticas das organizações. Acompanhe este texto para conhecer mais sobre este importante assunto e veja como ele pode ser aplicado no contexto das cadeias de suprimentos, do departamento de compras e de sua vida pessoal.
Conceitos e tendências
De acordo com a Fundação Ellen Macarthur, uma das principais organizações sobre o tema, o conceito de economia circular traz uma alternativa ao modelo econômico “extrair, produzir e desperdiçar”, que se encontra em sinais de esgotamento. Neste contexto, torna-se essencial pensar em caminhos para separar a atividade econômica da produção de recursos finitos e reduzir a geração de resíduos.
A economia circular baseia-se em três princípios: eliminar resíduos e poluição, manter produtos e materiais em uso e regenerar sistemas naturais. Além disso, pode ser aplicada em diferentes escalas – para pequenas e grandes empresas, que atuam local ou globalmente, entre outras.
Os estudos de casos produzidos por esta Fundação indicam quatro elementos básicos para a consolidação de uma economia circular:
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- Desenvolvimento de habilidades de design circular para facilitar o reuso, a reciclagem e o aproveitamento de materiais nas diferentes etapas da produção. O design circular pode ser entendido como um novo mindset para a criação de produtos e serviços, focando principalmente em soluções criativas que geram competitividade às empresas e a regeneração do planeta. O esquema abaixo mostra as diferentes etapas do design circular:

Fonte: The Great Recovery Project (Tradução Ideia Circular)
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- Criação de novos modelos de negócios inovadores, de diferentes áreas, que tenham a economia circular como elemento central, substituindo as opções atuais existentes e capturando as oportunidades futuras. Estes modelos podem ser criados por empresas já detentoras de fatias de mercado, além de empreendedores, inspirando o desenvolvimento de novas iniciativas;
- Aproveitamento de materiais em múltiplos ciclos reversos e o retorno deles ao sistema de produção industrial, envolvendo a logística da cadeia de entrega, separação, armazenamento, gestão de possíveis riscos a partir da adoção deste modelo, geração de energia, entre outros pontos;
- Estabelecimento de condições viabilizadoras e condições sistêmicas favoráveis, como colaboração, incentivos financeiros, criação de leis ambientais, entre outras.
Elementos e desafios para adotar o conceito
Trazendo a discussão para as cadeias de suprimentos, existe uma preocupação em mudar a orientação delas, antes focadas no custo (com a preocupação constante com a redução de gastos), e agora no valor gerado por elas, com investimentos em modelos sustentáveis, inovação e um menor impacto ao meio ambiente e à sociedade, isto é, outras vantagens adquiridas além de uma possível economia no curto prazo.
A preocupação já é sentida no dia a dia das empresas: de acordo com pesquisa da consultoria Gartner publicada neste ano, metade dos profissionais desta área acredita que a preocupação com a economia circular aumentará nos próximos dois anos.
Para tal, as cadeias de suprimentos necessitam se adaptar ao modelo de EC, acompanhando o impacto ambiental e econômico em tempo real de suas decisões, monitorando o uso de materiais reutilizáveis, utilizando e compartilhando dados com todos os envolvidos para melhorar os processos e estabelecendo padrões e normas a serem adotados.
É importante ressaltar que há desafios a serem enfrentados para a implantação dos conceitos de sustentabilidade e economia circular nas cadeias de suprimentos. De acordo com pesquisa realizada pela consultoria PwC, os três principais são:
- o alinhamento entre mensuração de performance e incentivos para resultados;
- a mensuração e monitoramento;
- a existência e comunicação de uma estratégia.
Qual o papel do departamento de compras de materiais indiretos?
O conceito de economia circular envolve a adoção de uma série de medidas a fim de eliminar a produção de resíduos. Esta é uma tarefa complexa, pois envolve o engajamento de muitas partes envolvidas no processo produtivo.
O departamento de compras de uma empresa, responsável pelas compras de materiais indiretos, pode contribuir através de algumas ações:
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- Checagem de certificações: verifique se seus fornecedores estão atentos a estas importantes questões e o que eles estão fazendo para reduzir o impacto da geração de resíduos na cadeia de suprimentos. Opte por aqueles que já conseguem de alguma forma reutilizar materiais produzidos ou que utilizam energia renovável.
- Verificar a necessidade da compra: mantenha sempre contato com a área responsável pelo estoque da empresa e veja se não existe algum material similar já disponível nos armazéns. Isso evita a compra desnecessária de materiais e o descarte de peças que ficam armazenadas por muito tempo, tornando-se inutilizáveis. Saiba mais em nosso texto sobre a gestão de estoques.
- Reutilização de peças: esta dica não pode ser aplicada em todos os contextos, mas, se existe esta possibilidade, avalie com o setor de manutenção e considere a compra de peças já utilizadas previamente. Desta forma, elas ganham mais tempo útil o ciclo de produção. Aqui temos dicas sobre essa questão.
Veja também outras dicas no post sobre compras sustentáveis.
E como você, sendo consumidor, pode contribuir?
Estar atento a estas mudanças nos modos de produção, utilização e descarte de um produto é algo importante nos dias atuais. Acompanhe as tendências relacionadas a economia circular e práticas sustentáveis e adquira bens de empresas que estejam preocupadas com estas questões e engajadas em achar possíveis soluções.
Como comentado, há muitas variáveis e partes envolvidas em uma transição para modelos circulares e sustentáveis.
Porém, é importante que façamos a nossa parte, reduzindo o lixo gerado e descartado no meio-ambiente e incentivando produtores que adotem medidas que auxiliem na resolução deste problema. Por exemplo, devemos adotar práticas de reciclagem e reutilização de materiais e eliminação correta de produtos como eletrodomésticos, baterias, entre outros dispositivos nocivos ao meio ambiente.
Siga acompanhando o blog da Soluparts para conhecer as tendências globais relativas às cadeias de suprimentos e boas práticas necessárias para departamentos de compras na nova era.
Para aprofundar mais no tema de economia circular e contribuir ainda mais para esse novo sistema visite o site do The Great Recovery Project.