Definir a melhor estratégia de supply chain para cada empresa não é uma tarefa fácil. Apesar de os objetivos serem conhecidos (mais eficiência e menores custos), é necessário ter atenção e cuidado ao determinar qual a melhor forma de atingir esses objetivos de forma eficaz.
Mas, antes disso: por que esse assunto importa? Jeffrey P. Wincel, autor do livro Lean Supply Chain Management: a handbook for strategic procurement afirma que a resposta é simples: custos e margens. Ele cita como exemplo o fato de que, em uma companhia de manufatura, os custos de suprimentos representam aproximadamente 50% do custo dos bens vendidos.
Além disso, afirma que há muita confusão a respeito do tema, principalmente porque muitas companhias focam essencialmente no processo de lean manufacturing e não dedicam atenção suficiente ao tema em supply chain.
Com o intuito de trazer mais luz ao tema, a Soluparts reuniu algumas informações sobre o lean supply chain management (ou cadeia de suprimentos enxuta, em tradução livre) e esclarece as principais diferenças entre esse modelo e o tradicional.
O que é o Lean Supply Chain Management e por que implementá-lo?
Para determinar a melhor estratégia para o seu dia a dia, é necessário entender mais sobre cada uma das abordagens usadas no mercado.
O Lean Production System é derivado do modelo de operações chamado de “The Toyota Way” que nasceu nas fábricas da Toyota, no Japão, na década de 30, como uma alternativa ao Fordismo. Seu objetivo é a redução de custos na linha de produção, estabelecendo estoques mínimos e uma execução de tarefas de forma a minimizar desperdícios e eliminar processos desnecessários. Ele procura mapear as tarefas e alocá-las de maneira que todo o processo seja otimizado, seja através da especialização de mão de obra em uma fase específica, ou a união de mais fases em uma mesma estação de trabalho.
Esquecida por alguns anos, a teoria foi recentemente apropriada pelas filosofias mais modernas de gestão de projetos, sendo, hoje, adaptada para diversas áreas. O termo “Lean” foi cunhado por John Krafcik, em 1988, e, oito anos depois, foi definido por James Womack e Daniel Jones para consistir em cinco princípios-chave. São eles:
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- Gerar valor para empresas e seus clientes. Apesar de parecer uma tarefa simples, a maioria das organizações falha ao tentar “adivinhar” o que os clientes precisam e como eles querem.
- Fluxo de valor: a partir de um estudo claro, mapear quais etapas agregam valor ao produto que está sendo desenvolvido. Dessa forma, é possível evitar desperdícios e tornar todo o fluxo de trabalho mais eficiente.
- Fluxo contínuo: a produção propriamente dita, sem interrupções. Atendendo o cliente em sua demanda máxima leva a menores níveis de estoque
- Produção direcionada: a partir do aperfeiçoamento e da experiência do cliente, a empresa passa a produzir apenas o que os clientes precisam, reduzindo o estoque ao máximo.
- Melhoria contínua: busca pelo aperfeiçoamento constante dos processos buscando sempre o estado de “perfeição” em termos de valor agregado entregue ao cliente e redução de desperdícios.
Nessa mesma linha, o lean supply chain management é uma abordagem que tem como objetivo extrair a máxima produtividade de todos os agentes envolvidos na cadeia de abastecimento. Se destaca principalmente em termos de custos e margens, trazendo maior eficiência dentro desse meio e proporcionando a capacidade de transferir verba de supply chain para outras áreas dentro da empresa.
De acordo com a McKinsey, em um estudo recente, as operações que se concentram nesse tipo de abordagem têm ganhos em duas frentes: elas podem controlar o excesso de custos e podem melhorar o atendimento ao cliente e a satisfação dele ao longo do processo – uma vez que adquirem vasto controle da cadeia de suprimentos. Melhorar pontos como serviços, prazos de entrega e frequência de serviços são alguns exemplos disso.
A consultoria norte-americana cita o exemplo de uma empresa farmacêutica, que reduziu em 25% a 30% os custos totais de transporte ao tomar essa abordagem em diferentes países.
Cadeia de suprimentos ágil e covid-19
O assunto ganha importância fundamental diante da nova era digital que estamos vivendo e, mais especificamente, num contexto de pandemia, em que diferentes empresas estudam a melhor forma de transportar insumos como vacinas e remédios da forma mais eficiente possível.
Em um artigo publicado no portal da revista Forbes, Michael Mandel, estrategista econômico do Progressive Policy Institute, defende que as cadeias de suprimentos se tornem mais curtas, contribuindo para uma produção cada vez mais sustentável e que consiga aproveitar ao máximo os recursos disponíveis.
A Soluparts já se debruçou sobre esse tema anteriormente, mostrando algumas perspectivas para a cadeia de suprimentos cada vez mais ágil e produtiva no pós-pandemia.
Pontos como a digitalização de cenários (com a previsão de cortes cada vez mais agressivos em custos para diferentes setores), adoção de uma presença digital forte e examinar com clareza os riscos que cada negócio deve sofrer ao longo do tempo são pontos essenciais para manter uma cadeia de suprimentos forte e eficaz – e o lean supply chain management pode ajudar nisso.
Pontos de atenção
Apesar de trazer inúmeros benefícios, o lean supply chain management também traz desafios. Para companhias que não têm o pleno conhecimento de sua cadeia de suprimentos – ou não têm a possibilidade de padronizar de forma clara todos os processos que são seguidos por um longo período de tempo – a metodologia não é recomendada para ser aplicada, uma vez que, assim que houver a mínima interferência dentro da cadeia, a produtividade e os ganhos de eficiência serão perdidos.
Além disso, caso o volume de itens transportados aumente drasticamente de um dia para o outro, a abordagem terá de ser revista com cuidado, uma vez que o local físico dos transportes deve ficar sobrecarregado. Se não houver estudos prévios a respeito disso, o “custo da urgência” pode resultar em aumento de gastos com transporte e horas extras de colaboradores.
Portanto, é necessário fazer um estudo completo e eficaz antes de implementar a metodologia dentro de qualquer companhia. Em um livro de Harvard sobre o assunto, há a citação: “antes de desenvolver a cadeia de suprimentos, considere a natureza da demanda que seu produto exige”.
Como implementar?
De acordo com a McKinsey, há seis pilares que têm de ser observados para implementar esse tipo de estratégia dentro da empresa. A maior parte deles é pragmática e exige pouco investimento financeiro de companhias. Veja abaixo:

De acordo com a consultoria norte-americana, elas podem resultar em:
Processos melhores
Apesar de uma resistência às mudanças e diminuição da eficiência ser algo frequente, é possível obter modificações significativas em logística ao reavaliar cada etapa de produção. Por exemplo, em muitos pedidos, os processos de separação e embalagem de produtos podem ser combinados, reduzindo etapas e otimizando transporte e espaço.
Treinar pessoas
Ao contar com pessoas treinadas e uma organização melhor dos espaços de trabalho — evitando excesso de gente em períodos de baixa demanda — é possível aumentar a eficiência em 15%. Algumas empresas atingiram resultados ainda melhores contando com uma ajuda extra de funcionários temporários, geralmente estudantes.
Interação com terceiros
Depósitos não são ilhas. Para operar de forma eficiente, um centro de distribuição deve interagir efetivamente com três grupos principais: fornecedores, clientes internos e externos e com outros setores da própria organização. Entender a demanda, mais uma vez, é uma etapa essencial para coordenar esse processo.
Flexibilidade
Muitos locais optam por uma abordagem única para os depósitos, em vez de segmentá-los de acordo com os tipos de produtos exigidos pelo cliente. Mas vale a pena ficar de olho nisso. Um depósito de uma farmacêutica foi capaz de reduzir o tempo de processamento de pedidos em 20% simplesmente eliminando prateleiras muito altas.
Senso de dono
A terceirização é uma estratégia comum para empresas que não têm a distribuição como uma competência essencial. Porém, muitos desses negócios tendem a ter uma abordagem menos personalizada e mais geral, o que pode criar lacunas de colaboração entre fornecedores e clientes. Portanto, ao analisar de perto esses processos e criar um senso de dono, a otimização ficará mais fácil de ser visualizada e atingida.
E, caso você tenha interesse em se aprofundar de forma significativa no tema, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) proporciona um curso on-line sobre o assunto. Saiba mais aqui.
Conclusão
Além de trazer mais eficiência de custos para as companhias, o lean supply chain management pode tornar a cadeia de suprimentos ainda mais resiliente. Em um artigo desenvolvido recentemente pela Soluparts, identificamos sete maneiras de tornar a cadeia de suprimentos ainda mais resistente ao longo do tempo.
Nela, pontos como adotar um fluxo centralizado de processos e atenção aos dados aparecem de forma fundamental, contribuindo para que cada vez mais empresas possam se adaptar aos desafios da nova era digital e ter a máxima eficiência dentro de seu dia a dia.
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