A economia atual traz uma série de desafios para as cadeias de suprimentos das organizações. Discutimos em posts anteriores algumas tendências relacionadas à necessidade de trazer mais agilidade aos projetos e processos, à inserção de tecnologias avançadas nas operações, entre outros tópicos.
Neste post, falaremos sobre como tornar as cadeias de suprimentos mais éticas. Atores como governos, ativistas, a mídia e os próprios colaboradores estão checando cada vez mais os impactos sociais das ações das empresas. Por isso, é necessário criar estratégias para administrar as crescentes pressões externas e internas.
Conceitos e tendências
Tornar as operações das empresas mais éticas é um assunto amplamente discutido por especialistas e profissionais de diferentes ramos. A conduta de negócio responsável deve ser algo assimilado por diferentes áreas das organizações, como marketing, finanças, logística, entre outras.
As empresas, mesmo focadas em lucro, precisam também se preocupar com os impactos sociais gerados por suas ações, isto é, questões como sustentabilidade e interação com seus diferentes públicos viram agenda prioritária para todos. Há também a atenção com a questão ambiental, apresentada em nossos textos sobre compras sustentáveis e economia circular.
As cadeias de suprimentos das companhias também tornam-se assunto sensível. Por elas serem atualmente globais e complexas, é comum ver ações antiéticas acontecerem sem o conhecimento da empresa, prejudicando a imagem corporativa e gerando, em muitos casos, problemas jurídicos.
Por isso, é importante saber o que todas as partes envolvidas estão fazendo, garantindo que todos cumpram as suas responsabilidades.
Há muitos casos recentes que servem como exemplo de “ações antiéticas”: nos últimos anos, vimos nos noticiários organizações que possuíam plantas industriais em países em desenvolvimento sendo expostas por contratarem mão de obra em regimes análogos aos de escravidão, violando os direitos humanos, ou por realizarem negócios injustos e predatórios com pequenos fornecedores.
E este tipo de conduta está sendo questionada cada vez mais. Hoje, os compradores de materiais indiretos, por exemplo, estão mais informados e fazem as seguintes perguntas para fornecedores durante o processo de compra:
- Vocês confiam em seus fornecedores e parceiros da cadeia de suprimentos? Mantém a palavra quanto à ética e moral, independentemente dos possíveis custos adicionais?
- Cada elo da cadeia de abastecimento cuida de seus trabalhadores com remuneração e cargas de trabalho justas e conduta ética no trabalho?
- Se o comportamento antiético for descoberto, como será remediado? Cada parceiro na cadeia de abastecimento trabalhará ativamente para garantir que seja corrigido?
Desta forma, as estratégias relacionadas à responsabilidade social corporativa tornam-se um norte para lidar com as seguintes preocupações:
- Eliminação de trabalho infantil e escravo;
- Condições de trabalho seguras e higiênicas;
- Salário justo e jornada de trabalho;
- Regras para combater o suborno e a corrupção;
- Compras éticas.
Há uma série de abordagens que auxiliam na mitigação dos tópicos citados acima. Um deles é a fair trade, sistema econômico baseado em relações de comércio justas para os envolvidos, especialmente pequenos produtores e trabalhadores de países periféricos.
A ideia é permitir um desenvolvimento econômico e o aumento do bem estar de todos, diferentemente do modelo tradicional focado na maximização do lucro. O fair trade permite trocas mais equilibradas entre os envolvidos, ajudando a reduzir a pobreza e promovendo a conscientização sobre consumo socialmente responsável.
Através de uma certificação emitida pela Internacional Fair Trade Association, os produtos que atendem ao padrão recebem um selo de identificação. Estes produtos podem ser de diferentes tipos, alimentares ou não. Saiba mais sobre o assunto.
Ética nas cadeias de suprimentos
Estudos recentes confirmam a importância de adotar uma conduta ética nas cadeias de suprimentos:
- De acordo com o Relatório de Sustentabilidade Corporativa Global da Nielsen, até 66% das pessoas estão dispostas a pagar mais por produtos que tenham impactos social e ambiental positivos. Outro relatório descobriu que os clientes estavam dispostos a pagar um valor adicional de até 25% por produtos “éticos”, elaborados de forma justa;
- Um estudo da Association for Supply Chain Management (APICS) indica que 83% dos profissionais da área consideram a ética um elemento importante para o trabalho deles;
- Além disso, segundo a pesquisa da APICS, 71% das empresas possuem um código de conduta para suas cadeias de suprimentos, mas apenas metade delas o aplica;
- Observou-se também que 70% dos entrevistados possuem políticas para entender as condições de produção dos materiais, mas somente 43% compreendiam as operações de seus fornecedores;
- Estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) indicam que companhias ganham valor ao adotarem medidas éticas. Como resposta a estes desafios, a instituição preparou um documento com diretrizes para as organizações promoverem cadeias de suprimentos éticas. Para mais informações, clique aqui.
Essas pesquisas mostram como é é crucial para as organizações trazerem mais transparência às políticas e práticas relacionadas às cadeias de suprimentos, tornando-se mais éticas e socialmente responsáveis.
Para tal, os profissionais da área devem estar atentos às formas de contratação, condições de trabalho, entre outros pontos, além de serem capazes de identificar desalinhamentos em suas políticas de ética e tomar uma atitude em relação a eles. Para aprofundar no tema, leia também nosso artigo sobre compliance.
Dicas para ter um departamento de compras de materiais indireto mais ético
As aquisições possuem um papel estratégico nas cadeias de suprimentos das empresas. Ao estarem atentas às questões discutidas neste texto, têm também a oportunidade de atrair mais valor, ao negociar acordos mais justos com pequenos empreendedores ou comunidades pobres, por exemplo.
A sugestão é oferecer cada vez mais operações com esta preocupação, focando em:
- Implantar códigos de conduta e contratos justos com seus diferentes parceiros;
- Acessar informações de seus fornecedores e suas atividades, a fim de checar o seu histórico de comportamento. Clique aqui para dicas de como administrar seus fornecedores com excelência;
- Verificar legislações nacionais e internacionais dos locais onde a sua empresa atua, evitando problemas legais relacionados a ações antiéticas;
- Tornar suas informações acessíveis aos públicos envolvidos, tornando as suas operações mais transparentes;
- Usar a tecnologia a seu favor, com o uso de softwares que auxiliem no gerenciamento de suas aquisições, com dados sobre fornecedores frequentes;
- Ter uma equipe treinada com o pensamento ético, para a condução de negociações justas a todos.
E o que você pode fazer como consumidor?
É papel de todos nós, como consumidores, estarmos atentos às importantes questões levantadas neste texto. Os negócios estão cada vez mais orientados para a satisfação de seus clientes, e estes estão cada vez mais informados e engajados em questões sociais e ambientais.
Por isso, mantenha-se atento às notícias sobre o assunto e procure comprar produtos de empresas que realizem negócios éticos e tratem respeitosamente os seus fornecedores e colaboradores. As pressões externas e internas são também uma importante forma para a mudança de atitude das companhias, e hoje há diferentes mecanismos para dialogar com elas (como as redes sociais).
Para saber mais sobre tendências da nova era relativas às cadeias de suprimentos e compras de materiais indiretos, acompanhe o blog da Soluparts.