No último dia 23 de março, o Canal de Suez tornou-se manchete no mundo inteiro – o Ever Given, um navio porta-contêineres de 1.300 pés, de propriedade de japoneses a caminho da China para a Europa, ficou preso na via de navegação por seis dias.
A quantidade de dias pode até parecer pouca, porém, os impactos na economia global ainda estão sendo sentidos, afinal, estima-se que 90% do comércio mundial seja transportado por via marítima.
A hidrovia foi inaugurada em 1869 e desde então tem sido uma passagem marítima internacional vital – é uma importante rota comercial que encurta as distâncias entre a Ásia, o Oriente Médio e a Europa.
Localizado no Egito, o canal conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, evitando que navios tenham que contornar toda a África – com isso, as embarcações economizam milhares de quilômetros de viagem.
A corrida ininterrupta para desbloquear o canal, que, de acordo com a Autoridade do Canal de Suez, tem mais 12% do comércio mundial passando pela estrutura, durou seis dias, com equipes de resgate que trabalharam em terra e água drenando areia e removendo rochas das extremidades do navio que haviam bloqueado a passagem.
Além do Egito, outros países também estiveram envolvidos na resolução do problema, como Holanda e Alemanha, sendo que até os Estados Unidos ofereceram ajuda. Foram quatorze rebocadores puxando e empurrando o Ever Given na maré alta para movê-lo.
Vale aqui ressaltar o trabalho do agente de cargas, que faz o gerenciamento do navio e desempenha papel fundamental de comunicação entre uma embarcação e as empresas de transportes e armazenagem, despachantes aduaneiros, terminais de contêineres e operadores portuários. Tais profissionais foram fundamentais em todo o processo pelo qual o Ever Given passou devido ao encalhe.
O dinheiro perdido
No dia 29 de março, apenas algumas horas antes do Canal de Suez ser liberado, 367 navios aguardavam para passar pela via, de acordo com a Leth Agencies , uma prestadora de serviços local.
Para se ter noção do impacto, cerca de 12% do comércio global, um milhão de barris de petróleo e 8% do gás natural liquefeito passam pelo canal todos os dias, sendo que antes da pandemia, o comércio que passava pelo Canal de Suez contribuía com 2% do PIB do Egito. Houve, inclusive, aumento do preço do petróleo devido à situação incomum.
Como os atrasos podem ser muito caros para os proprietários de navios, alguns decidiram redirecionar os navios ao redor do Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África, acrescentando cerca de oito dias às viagens marítimas – especialistas estimam que o congestionamento tenha retido quase 10 bilhões de dólares em transações diárias.
Segundo análise da seguradora alemã Allianz, o bloqueio custa ao comércio global entre 6 bilhões a 10 bilhões de dólares por semana e pode reduzir o crescimento anual do comércio em 0,2 a 0,4 pontos percentuais.
Incontáveis negócios afetados
Porém, o bloqueio do Canal de Suez não afeta apenas a indústria de transporte marítimo global: inúmeros negócios, de fornecedores de transporte doméstico a varejistas, supermercados e fabricantes também são afetados.
Desde produtos alimentícios até peças de reposição para motores ficaram parados no mar. Havia a preocupação, inclusive, de que, se o bloqueio no Canal de Suez continuasse, algumas empresas teriam que pagar para pedir mais mercadorias e enviá-las por frete aéreo, o que custa pelo menos três vezes mais.
Isso significa que mesmo com um retorno às operações normais em uma semana ou mais, o bloqueio temporário deixaria as cadeias de suprimentos tendo de superar a carteira acumulada – os responsáveis pelas compras das cadeias de suprimento monitoraram de perto o andamento da resolução, rastreando quais materiais os fornecedores possuíam e que podiam estar em algum dos navios parados no Canal de Suez.
Os despachantes de carga tiveram que negociar os seus contratos anuais com varejistas e fabricantes que dependem de cadeias de suprimentos globais, tendo de escolher entre manter os altos preços de hoje para o ano que vem ou apostar que eles vão diminuir conforme o sistema se reequilibra.
O que fazer se sua carga estivesse neste cargueiro?
O incidente do canal também pode fazer com que as empresas repensem as estratégias de suprimentos, conhecendo melhor suas vulnerabilidades e os possíveis eventos inesperados – como uma pandemia global ou um navio encalhado em um canal importantíssimo.
Alguns profissionais, inclusive, já decidiram aumentar seu estoque de segurança para lidar com as interrupções da cadeia de suprimentos, por exemplo. Veja abaixo algumas dicas do que fazer se a carga parar em um engarrafamento marítimo.
Tenha um plano de gestão de risco
Nesse cenário, cada vez mais as empresas buscam atingir o máximo grau de resiliência possível. Em um ambiente em que as empresas compram de fornecedores, que por sua vez dependem de matérias-primas de outras empresas, qualquer mudança pode expor todo o ecossistema. Com tamanha complexidade, o gerenciamento de riscos é fundamental para tornar a área resiliente e capaz de realizar novos negócios de maneira ágil.
Consulte o Incoterm na sua Purchase Order
Antes de qualquer ação, saiba de quem é a responsabilidade da sua carga, do comprador ou do vendedor. Essa informação é determinada pelo Inconterm usado na ordem de compra e vai determinar os seus próximos passos para resolver o problema em questão.
Consultar o agente de carga
Sendo o caso, entre em contato com o agente de carga contratado para verificar se seu contêiner foi afetado e quais as novas previsões de entrega. Caso seja possível, entre em contato com o responsável pelo meio de transporte, como o carrier.
Essas informações podem ser encontradas no Bill of Landing de sua carga. Ao entrar em contato identifique sua carga pelo número do contêiner, o nome do navio e do seal, encontrados no mesmo documento. Em caso de carga perecível, redobre os cuidados.
Identifique o responsável pelo acidente
O responsável pelo acidente, caso houver, deve ser penalizado. Pontos que devem ser analisados, por exemplo, é a jurisprudência do local onde o acidente aconteceu. Essas determinações dependem de tratados internacionais e caso a carga esteja em águas internacionais, a justiça internacional pode ser acionada.
Se estivermos falando de um território em um país específico, os responsáveis devem ser julgados pela lei deste país. Outra possibilidade, é que o caso seja julgado pelo país de nacionalidade do navio. Em todos os casos, pode-se contar com um árbitro internacional para agilizar o acordo sem ser necessário seguir os trâmites judiciais.
Compre com antecedência
Planeje-se para sempre fazer suas compras com antecedência. Programar-se para que sua carga não atrase mesmo com possíveis imprevistos, pode evitar vários problemas que reagem em cadeia. Comprar para repor estoque é uma boa opção para que sua produção não pare.
E o mais importante: tenha um seguro de carga
Em caso de acidentes, caso nenhum seguro de carga tenha sido contratado, existe a possibilidade de perda da mercadoria sem direito a reembolso. Em caso de carga perecível ou avarias, a única possibilidade de não perder seu investimento é acionando o seguro. Alguns Incoterms definem a obrigatoriedade do seguro, mas a recomendação é contratá-lo independente do Incoterm.
Estar preparado é essencial e nesse sentido, o uso de sensores, big data e a atenção à tecnologias como machine learning são pontos fundamentais para profissionais. Dessa forma, é possível organizar a informação que vem de diferentes fontes, monitorar minuciosamente cada trecho da cadeia, prever e evitar possíveis problemas, e ter um senso claro de prioridades dentro do ambiente organizacional.
Conclusão
Identificar a melhor época do ano para obter peças com os melhores preços de um fornecedor específico, gerar preferência em relação a fornecedores que possuem melhor prazo de entrega e melhores condições de pagamento são algumas ações possíveis, que acabam contribuindo para a saúde financeira da companhia como um todo.
As cadeias de suprimentos estão cada vez mais complexas e, como resultado, muitas empresas são forçadas a seguir um número cada vez maior de regras e regulamentos -entender sobre rotas e tráfegos de navios de carga pode ser um diferencial para gerar a maior segurança possível para o processo de compra.
O recente encalhe do Ever Given no Canal de Suez, expõe as fragilidades desse sistema global – com o transporte tão dependente de vias marítimas estreitas, o potencial para esses incidentes está sempre presente.
As companhias devem estar mais cientes dessas fraquezas à medida que o mundo se torna mais conectado, procurando soluções que mantenham a cadeia de suprimentos equilibrada mesmo em situações adversas.
Grande parte dos problemas podem ser evitados com análises preditivas de problemas, um bom plano de gestão de risco e uma cadeia de suprimentos resiliente e ágil.
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