Antes de mais nada, é preciso ter em mente que as crises financeiras fazem parte de um ciclo econômico com fases de crescimento e declínio. Partindo desse princípio, se antecipar é a melhor maneira de se preparar para enfrentar um cenário adverso.
Embora a crise gerada pelo Coronavírus tenha sido atípica devido à amplitude mundial e ao desconhecimento prévio sobre o SARS-Cov-2, é importante estar atento a alguns sinais que podem indicar o fim de um ciclo econômico como mudanças bruscas nas taxas de juros, muita liquidez no mercado e aumento desregulado dos preços dos materiais indiretos.
De maneira geral, as empresas sempre foram desafiadas a adaptar suas cadeias de suprimentos ao sucesso no mercado. Quando a economia está em alta, fica mais fácil alinhar as capacidades de manufatura com a demanda crescente para garantir materiais de novos fornecedores. Mas, quando acontece o contrário, em tempos mais difíceis, as empresas se deparam com pedidos cada vez menores, concorrência crescente e margens em queda.
Com a mudança de quadro, as prioridades para as cadeias de abastecimento diferem significativamente – contenção de custos, redução de capacidades, consolidação de fornecedores e liberação de dinheiro retirando estoque são algumas das ações buscadas.
Uma coisa em comum das empresas que sobreviveram à crise financeira foi reagir de forma rápida e decisiva, alavancando abordagens inovadoras para proteger suas cadeias de suprimentos em meio ao clima de negócios desafiador.
A economia em momentos de crise
Quando existe uma crise, há também uma queda na demanda – e então vem a lei básica da economia: a oferta de produto no mercado será maior do que a demanda.
Como resultado, os níveis de estoque acabam aumentando. Consequentemente, para que os produtos não fiquem parados muito tempo, as empresas terão que abaixar os preços, o que leva a uma redução do lucro.
Não podemos esquecer que nesses períodos costuma haver um aumento nas taxas de juros, já que os bancos terão menos reservas e menos caixa disponível, fazendo com que seja mais difícil conseguir empréstimos.
Diante de tal cenário adverso, abordagens inovadoras e boa gestão para gerenciar cadeias de suprimentos em uma recessão são importantes.
Como preparar sua gestão de estoque para uma possível crise
Embora a maioria dos efeitos da pandemia de Coronavírus possam ser vistos como inevitáveis, o impacto geral poderia ter sido amenizado. Mas o que as empresas devem começar a fazer?
Uma empresa que é bem administrada antes da crise certamente será mais resiliente durante a crise. Dessa maneira, o mais importante será construir uma gestão empresarial o mais equilibrada possível, principalmente em termos de níveis de estoque.
Abaixo, algumas ações importantes para que isso aconteça:
- É importante mapear processos, informações e fluxos de caixa para obter uma visão de ponta a ponta de sua cadeia de suprimentos, por isso meça constantemente seu desempenho com indicadores e KPIs.
- Gerencie seu estoque de acordo com os riscos existentes – uma boa saída são as classificações ABC e XYZ.
- Avalie a permanência de produtos antigos e desatualizados no estoque. Será que não é mais interessante reduzir o estoque e gerar fluxo de caixa?
- Aumente a flexibilidade. É melhor, em alguns períodos, ter prazos de pagamento e logísticos muito mais curtos para ser muito mais responsivo a uma demanda que está aumentando ou diminuindo.
- Esteja atento aos sinais do mercado para ser capaz de reagir o mais rápido possível e revisar suas vendas e previsões de compra.
- Estabeleça um processo para monitorar a probabilidade de cancelamento de pedidos, semelhante aos processos de monitoramento da probabilidade de ganhá-los, é imprescindível.
- Não tenha medo de se afastar dos orçamentos e metas iniciais, implementar um novo orçamento pode ser fundamental para salvar a empresa
- Aumente a comunicação direta com o departamento de manutenção, integrando ainda mais os sistemas para obter atualizações em tempo real dos volumes planejados
- Obtenha uma compreensão clara dos cenários de demanda, já que ela deve ser a base de todo o planejamento da cadeia de suprimentos
- Proteja seus suprimentos para evitar gargalos à medida em que os fornecedores fecham as portas
- Acelere os esforços para criar cadeias de suprimentos flexíveis, que possam lidar com todos os tipos de variabilidade
- Se for preciso, reduza cuidadosamente os estoques para liberar dinheiro – esse é um passo essencial para ações de recuperação.
- Monitore os fornecedores, identificando a criticidade de cada um para evitar altas flutuações com prazos de entrega.
- Evite a entrada de estoque excedente: ainda que muitos contratos não permitam cancelamentos de pedidos, é possível negociar com os fornecedores para estender os compromissos de volume por períodos mais longos.
- Seja ágil, desafiando e testando constantemente suas habilidades para se adaptar às principais mudanças na demanda e na oferta.
Não se deve esperar a próxima crise para agir
A crise do Covid-19 está acelerando mudanças fundamentais e estruturais que já eram inevitáveis, apenas estão ocorrendo de forma mais rápida pela proporção que a pandemia tomou – portanto, a necessidade de criar cadeias de suprimentos mais resilientes são inevitáveis.
Depois que as empresas alcançam um bom entendimento de todos os fluxos, relacionamentos e dados no sistema, é importante realizar uma revisão completa dos riscos de uma visão de ponta a ponta da cadeia de suprimentos.
Também é importante testar regularmente as operações, não apenas do ponto de vista do custo comercial, mas também do ponto de vista da estabilidade operacional e do atendimento à demanda.
Dito isso, haverá implicações duradouras em como as pessoas trabalham e como funcionam as cadeias de suprimentos. Essa também é uma oportunidade para decisões de negócios difíceis, como uma reorganização há muito desejada ou corte de produtos e clientes que não apresentam desempenho satisfatório.
A capacidade de resiliência das empresas durante as próximas recessões deverão ser liderada pela tecnologia, com o uso de plataformas e ferramentas como Machine Learning e Analytics Procurement, pautadas pela Inteligência Artificial, que são capazes de utilizar uma grande quantidade de dados para otimizar a cadeia de suprimentos e até prever e antecipar tendências.
Foco no futuro
A crise financeira tem sido um dos desafios mais difíceis para os profissionais da cadeia de suprimentos – as empresas de todos os setores foram obrigadas a lidar com enormes disparidades entre demanda e oferta, causadas pelo colapso da demanda.
As empresas devem começar a se preparar o mais cedo possível para os tempos difíceis que virão. À medida que respondem aos impactos imediatos da pandemia e se preparam para o que vem a seguir, um ciclo contínuo de análise, configuração e operação pode ajudar a mitigar os riscos.
Dessa maneira, há uma necessidade de as empresas criarem resiliência de longo prazo em suas cadeias de suprimentos para gerenciar desafios futuros, com flexibilidade suficiente para se proteger contra interrupções e tendo em vista o desenvolvimento de uma estrutura robusta que inclua uma capacidade de operações de gerenciamento de risco responsivo.
Para saber mais sobre atualidades que devem moldar o comportamento do setor nos próximos anos, acompanhe os artigos da Soluparts!